Vice de Ludio é sócia de desembargador em garimpo de ouro que já faturou R$ 49 milhões

Extração de ouro autorizada pelo governo Lula é feita em três municípios mato-grossenses e Rafaela Fávaro não declarou empresa que tem capital social de R$ 5 mihões à Justiça Eleitoral

A jornalista Rafaela Fávaro (PSD), candidata a vice-prefeita na chapa encabeçada por Ludio Cabral (PT), aparece como sócia de uma empresa de extração de ouro que mantém sociedade com outra empresa pertencente ao desembargador Orlando de Almeida Perri, da 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, para explorar atividades garimpeiras na faixa de fronteira de Mato Grosso com a Bolívia.

É o que mostra documentos oficiais da Agência Nacional de Mineração (ANM), obtidos com exclusividade pelo Isso É Notícia, e datados de 19 de junho de 2023.

Trata-se da 3F Participações S/A, que detém capital social de R$ 5 milhões e é administrada, desde setembro de 2021, conforme a Receita Federal, pelo empresário Joni Eden Baqueta Favaro, irmão do ministro da Agricultura Carlos Fávaro. Ou seja, tio de Rafaela Favaro.

A 3F Participações S/A e a MVP Participações, de propriedade do desembargador Orlando Perri, formaram a sociedade da G3 Mineração e Participação SPE LTDA.

Só em 2023, o lucro bruto desta parceria foi de R$ 49 milhões, segundo documento da própria empresa enviado ao ministro das Minas e Energia. (leia mais no tópico ao final da reportagem)

Juntas, as duas empresas se uniram mirando um objetivo em comum: receber autorização do governo federal para explorar ouro e outros minérios nos municípios mato-grossenses de Pontes e Lacerda, Nova Lacerda e Vila Bela da Santíssima Trindade.

Em abril de 2023, foi encaminhado um documento à Agência Nacional de Mineração (ANM), ligada ao governo federal, para informar que a 3F Participações S/A, a partir de uma alteração na Junta Comercial, passou a ter como acionistas o empresário Joni Eden Baqueta Fávaro, a candidata a vice-prefeita Rafaela Fávaro e sua mãe, a empresária Beatriz Vendramini Fávaro.

A autenticidade do documento foi checada pela reportagem junto à ANM.

Na declaração de bens protocolada na Justiça Eleitoral, Rafaela Fávaro informou que é jornalista e redatora. Declarou outras três empresas e possuir patrimônio de R$ 380 mil. Porém, não informou nenhuma relação comercial com a 3F Participações S/A.

Em consulta ao sistema da Receita Federal nesta terça-feira (22), o nome de Rafaela Fávaro não figura atualmente como sócia da empresa em seus registros.



 

Governo Lula autorizou família Fávaro e desembargador a explorar garimpo em MT

Um documento encaminhado à Agência Nacional de Mineração (ANM), em 2023, comprova que a mineradora Morro Dourado LTDA cedeu a exploração de garimpo de uma área próxima de 10 mil hectares, localizada em Nova Lacerda e Vila Bela da Santíssima Trindade, para a G3 Mineração e Participações SPE e a Mineração Tykhe SPE LTDA.

Consta a informação de que a mineradora Morro Dourado LTDA, sediada em Mato Grosso, recebeu autorização do governo federal, em agosto de 1992, para explorar ouro numa área de 9.819 hectares nos dois municípios. Em abril de 2023, foi protocolado requerimento cedendo uma área de 313 hectares para a G3 Mineração e Participações SPE e outros 99 hectares para a Mineração Tykhe Spe LTDA.

O Ministério de Minas e Energia, por meio da nota técnica nº 47/2024, autorizou a cessão das áreas de exploração de ouro para a G3 Mineração e Participações SPE LTDA, da qual são acionistas a jornalista e candidata a vice-prefeita de Cuiabá, Rafaela Fávaro, e o desembargador Orlando Perri, segundo o documento oficial da ANM.

Em janeiro deste ano, foi emitida a licença de instalação 76210/2024 pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente, válida até janeiro de 2027, que autoriza a G3 Mineração e Participações SPE e a Mineração Tykhe Spe LTDA a proceder com a atividade de “beneficiamento de minério de metais preciosos, associado ou em continuação à extração”.

Parceria “Fávaro-Perri” faturou R$ 49 milhões em 2023

Um documento encaminhado ao ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira de Oliveira, em fevereiro deste ano, a G3 Mineração e Participações SPE LTDA informou ter tido um faturamento bruto de R$ 49,2 milhões desde o início de sua operação. A empresa informou não ter condições de extrair 9,6 kg de ouro, inicialmente previsto. Por isso, fez uma reanálise de suas metas.

“A empresa optou por realizar investimentos com menor risco, levando em consideração tanto o mercado interno quanto o externo do Brasil, e planejou escalonar a extração do minério gradualmente, em vez de esgotar rapidamente a mina. Dessa maneira ficou estipulado uma média de três quilos ao mês no primeiro ano, quatro quilos ao mês no segundo ano e cinco quilos ao mês até a exaustão da reserva até aqui cubada”, diz um dos trechos.

Segundo o mesmo documento, o empreendimento apresentou uma rentabilidade de 248% e lucratividade de R$ 37% com Taxa Interna de Retorno (TIR) de 148%.

O documento foi assinado pelo engenheiro Luiz Felipe Perdigão Alves.

Plano de governo de Ludio não aborda questão da mineração em Cuiabá

O plano de governo do candidato Ludio Cabral (PT) protocolado junto à Justiça Eleitoral, apesar de trazer um tópico sobre mudanças climáticas, não faz nenhuma citação sobre como lidar com a questão da mineração em Cuiabá.

A capital sofre com as consequências da mineração desenfreada que pode ser vista até na área urbana da cidade.

Outro “ponto crítico” á a região do Coxipó do Ouro, aonde funcionam diversas mineradoras de extração de ouro, como a Casa de Pedra e a Mineração Aricá, alvo da Operação Hermes, que desbaratou um esquema de contrabando ilegal de mercúrio e que envolve até o filho do governador Mauro Mendes (União).

Algumas dessas mineradoras que atuam na região do Coxipó do Ouro, inclusive, exploram áreas que estão dentro dos limites da APA (Área de Proteção Ambiental) Aricá-açu, cuja competência de gestão é municipal, e afetam a vida de comunidades rurais como a do Rio dos Médicos, um dos povoados rurais mais afetados por essas atividades na região.

O que dizem os candidatos citados

Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da candidata Rafael Fávaro informou que ela não vai se manifestar sobre o assunto abordado e nem sobre os questionamentos sobre sua participação no mercado da mineração.

Já o candidato Ludio Cabral, questionado sobre suas ações para a atividade garimpeira dentro do município informou que “o foco para a zona rural de Cuiabá é desenvolver um polo de hortifruticultura, com auxílio da Unidade Mista de Pesquisa e Inovacação (Umipi) da Embrapa na Baixada Cuiabana”.

Sobre as propostas para a questão da mineração, o  candidato do PT não respondeu.




Fonte: Isso é Notícia