Psicóloga aponta vulnerabilidade que pacientes LGBT+ podem ter durante terapia

Nesse sentido, a comunidade LGBTQIA+ é um dos grupos que podem estar vulneráveis a ter esse tratamento negligenciado

Em um mundo pós-pandêmico, discussões sobre a saúde mental se tornaram ainda mais relevantes. Considerando que a sociedade é formada por grupos diversos, quando se fala sobre saúde mental é necessário também considerar as especificações de cada segmento da população.

Nesse sentido, a comunidade LGBTQIA+ é um dos grupos que podem estar vulneráveis a ter esse tratamento negligenciado.

 

Em junho de 2023, o estudante G.V.S buscou tratamento psicológico em uma clínica na capital. Durante o atendimento, entretanto, o jovem de 21 anos percebeu certo julgamento da profissional que o atendia. Enquanto falava sobre sua relação com os pais, a psicóloga fez com que se sentisse culpado e sugeriu que procurasse ajuda em uma igreja.

 

 

“No início estava muito aberto, estava ali justamente para escutar e conversar. Sabe quando você vai perdendo o brilho? quando dá uma baixa assim? Você fica meio frustrado, no sentido de ‘cara eu fui procurar uma psicóloga, uma profissional, e ela fala para mim que eu preciso ir para a igreja?’ Então fiquei desacreditado e um pouco frustrado com o processo. Não fui lá para escutar que eu tenho que ir para a igreja. Não é necessariamente uma questão ", comentou o estudante.

 

G.V.S também relata que sentiu um desconforto da profissional quando falou sobre sua sexualidade.

 

“Eu senti uma falta de habilidade dela de lidar com a situação. Quando eu falei que eu era gay, ela meio que não soube como reagir ou como falar sobre o assunto. Eu senti um certo despreparo na fala dela. Não necessariamente ela foi preconceituosa, mas acho que ela estava despreparada mesmo para lidar com o assunto” disso o jovem.

 

Com a frustração da consulta, o jovem se sentiu desmotivado e parou o tratamento. Só após um tempo, com muito receio, ele voltou a fazer terapia. Agora com uma psicóloga indicada por uma amiga.

 

Para a psicóloga especialista em diversidades sexuais e gênero, Luciana Rebouças, 29, um profissional deve ter atenção às nuanças de cada individuo.

 

“Cabe a um profissional de saúde mental, quando atende a população LGBT, é se despir de alguns preconceitos, é compreender o quanto esses preconceitos são dolosos aquela população. Atendemos como qualquer outro, como qualquer outra comunidade, mas entendendo as nuanças em que podem vir a acontecer. Eu acredito que não vai haver um tratamento diferente para quem é heterossexual ou para quem é bissexual ou homossexual o que diferencia é você estar com um olhar atento às violências em que essa população está suscetível”, aponta a terapeuta.

 

Rebouças também observa que os pacientes dessa comunidade tendem a procurar terapia muito mais pela violência e não aceitação cometida pela sociedade, do que por questões individuais.

 

“É muito mais pela falta de uma rede de apoio, a falta de acesso a políticas públicas. Então, toda essa falta de apoio deixa esses grupos mais vulneráveis, mais suscetíveis a alguns quadros de transtornos. Não necessariamente a sexualidade em si, mas o preconceito e essas violências em que eles acabam sofrendo. Resultam ali numa ansiedade, numa depressão, em transtornos que precisam um pouco mais”, complementa.

 

A falta de apoio familiar também é uma situação recorrente para esse grupo. Frente a esse fato, a especialista sinaliza que isso pode possibilitar um sentimento de culpa do paciente por não seguir uma padronização de gênero e orientação imposta a ele. Assim, pode potencializar quadros de transtornos mentais, como depressão e ansiedade, e também pode dificultar a criação de laços afetivos primários.

 

A psicóloga pontua que o processo terapêutico pode auxiliar o individuo a enfrentar esses desafios. Uma vez que, possibilita que o paciente “tenha um olhar sobre si mesmo, não através do olhar do outro. Ele conseguir enxergar as suas necessidades, as suas potencialidades, se identificar enquanto indivíduo, independente desse olhar que subjuga e que tenta define-lo através de algo externo” argumenta.

 

“Para que possa perceber que o amor, os diferentes tipos de relações de ofertas podem ser criados, podem ser cultivados para além de um ser familiar que talvez não foi o mais acolhedor. Que essa rede de apoio pode ser construída em outros âmbitos e que possa significar e se apropriar das suas demandas de uma forma que consiga dialogar com a comunidade. E consiga o seu lugar na sociedade de uma forma mais ampla, que consiga buscar os seus desejos e sustentá-los através dessa aproximação também com parte da sociedade que o acolhe e também desse enfrentamento, né? De criar formas de defesa que sejam mais saudáveis a ele”, complementa a psicóloga.


Fonte: Gazeta Digital
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