Professor explica fatores que fazem Cuiabá não ser mais 'cidade verde'

A mudança se deve, principalmente, ao crescimento da cidade sem uma preocupação com a arborização urbana

Apelidada de “cidade verde” no começo do século XX, há alguns anos Cuiabá já não faz jus à fama. Naquela época, a Capital era uma verdadeira “Ilha Verde”, rodeada dos biomas Cerrado, Pantanal e Amazônia, mas hoje o que se vê é fumaça, prédios altos e obras inacabadas por todos os lados.

 

A mudança se deve, principalmente, ao crescimento da cidade sem uma preocupação com a arborização urbana.

 

 

O professor e doutor em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Rafael Pedrollo de Paes, explicou os pontos que fazem com que Cuiabá se distancia cada dia mais da fama de cidade verde.

 

“Um dos fatores é o crescimento de condomínios horizontais, que conseguem o licenciamento ambiental dizendo que vão fazer um plano de recuperação de área degradada, mas quando as casas são entregues, a última ação deles é plantar aquela arvorezinha pequenininha, mirradinha em um solo que foi todo modificado”, afirmou.

 

Na avaliação do professor, a população está deixando de andar a pé e consequentemente não vê necessidade de árvores para fazer sombras. O mesmo é percebido nas casas, que têm substituído os quintais por concreto para evitar a sujeira das folhas. A necessidade de arborização só é lembrada nas épocas de seca extrema, que torna a cidade ainda mais quente.

 

“O segundo caso é a redução de calçadas, que fazem com que os pedestres deixem de andar a pé e por isso não veem necessidades de árvores para fazer sombra. O terceiro fator são as propriedades particulares, em que as pessoas optam por retirar as árvores de seus terrenos, devido à sujeira, porque está batendo no telhado ou até mesmo quebrando o piso. Já o último fator são as preservações das áreas públicas. Parques, praças públicas, que deveriam ser ricas em árvores e grama, estão sendo feitas de concreto, e por isso não é muito frequentada de dia, porque não tem sombra”, enumera o pesquisador.

 

O professor explica que Cuiabá possui um plano diretor de arborização elaborado há alguns anos, mas que não é respeitado e atualizado.

 

“Cuiabá não tem política pública para isso. A gente pode ver, tem lei estadual também sobre isso. Mas os historiadores estaduais também ignoram. Então até tem lei, mas não acontece nada”, afirmou.

 

Nos últimos anos, Cuiabá sofre com ondas de calor que a coloca entre as cidades mais quentes do mundo com frequência. O doutor explica que as árvores são fatores determinantes para absorção de dióxido de carbono e por isso, ajudam a melhorar a qualidade e a temperatura da cidade.

 

“A árvore vai aumentar a evapotranspiração, que é a perda de água do solo por evaporação, e a perda de água da planta por transpiração, o que vai resultar também no aumento da umidade. Quando a gente está numa situação aqui de baixa umidade, que a gente fala em clima desértico, abaixo de 15%, se a gente tem uma árvore, ela vai favorecer a evapotranspiração, melhorando diretamente a umidade e isso vai melhorar também a qualidade do ar”, explicou. “Quando você tem uma arborização, você tem a redução de temperatura. Porque emite menos carbono, já que a árvore consome este carbono, além disso, a árvore vai ajudar gerando sombras”, pontuou o professor.

 

Conforme o professor, a posição geográfica de Cuiabá, entre serras, também favorece para que seja uma cidade de clima quente durante o ano todo.

 

Ele acredita que a conscientização, politicas públicas e um programa de arborização podem ajudar a cidade a voltar a fazer jus ao apelido de cidade verde.

 

“De acordo com a Lei Complementar Municipal 515/2022, apelidada de IPTU Verde, quem mantiver áreas verdes em casa pode solicitar desconto do IPTU, mas quase ninguém sabe disso. Essa iniciativa pode incentivar a plantação de árvores e melhorar a qualidade de vida na cidade”, finalizou. 



Fonte: Gazeta Digital
Crédito da Foto: Jornal A Gazeta