Dois meses após incêndios, lojistas seguem sem resposta

Trabalhadores impactados estão alojados sob tendas na avenida Carmindo de Campos, à espera da montagem de uma estrutura provisória para transferência ao estacionamento do shopping

O incêndio que destruiu o Shopping Popular completa dois meses neste domingo (15) e até agora os comerciantes afetados esperam respostas sobre os prejuízos e realocação. Por enquanto, os 600 comerciantes lojistas improvisam barracas nas ruas para seguir com as vendas de produtos que antes eram comercializados no centro comercial.

 

A causa do incêndio ainda é desconhecida e o recomeço turbulento. Trabalhadores impactados estão alojados sob tendas na avenida Carmindo de Campos, à espera da montagem de uma estrutura provisória para transferência ao estacionamento do shopping.

 

A última etapa de demolição do que sobrou do prédio que abrigava as 600 barracas foi concluída e o laudo pericial ficaria pronto ainda este mês. Procuramos a Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec) e foi informada que não há prazo definido para término.

 

A Associação dos Camelôs do Shopping Popular espera que no decorrer da próxima semana os comerciantes comecem a ser transferidos ao estacionamento, mas não há data confirmada para a mudança.

 

 

Estivemos no local e populares relataram dificuldades no recomeço. Muitos apontam o tempo seco e o calor intenso como um fator para a baixa nas vendas. Outros consideram que o local não permite o fluxo de clientes pela falta de estacionamento adequado.

 

Para o lojista Yago Junior, 26, o clima árido é um dos motivos para o desaparecimento dos clientes.

 

“Esse é um dos motivos que a gente não tem cliente. Porque o ambiente não é climatizado, falta muita coisa ainda”. Ele acrescenta que as vendas “caíram bastante porque a gente está sem estacionamento e as pessoas que mais param estão a pé ou que passam procurando um produto específico”, argumenta. 

Ana Clara Abalém

Comerciantes do Shopping Popular

 

 

Yago tinha há 5 anos uma banca de eletrônicos e assistência técnica no Shopping. O jovem, junto ao sócio, foi conferir o local demolido. Ao observar o espaço, compartilhou sua perspectiva sobre o futuro. Para ele, permanecer no local é uma forma "pressionar" por uma solução.

 

“Acredito que se a gente não sair daqui, as coisas vão andar mais rápido, que a reconstrução do shopping vai ser mais rápida. Porque se a gente sair daqui, não vai ter mais construção, é perigoso a gente ter perdido esse shopping. Ano que vem eu quero estar com a minha banca aqui de volta, essa é a minha única perspectiva”, declara.

 

O presidente da Associação dos Camelôs, Misael Galvão, anunciou, durante o processo de demolição do Shopping Popular, que espera uma reinauguração em abril de 2025.

 

Henrique Carmindo de Salles, 67, comercializa eletrônicos, overboard, triciclo e patinete. Ele revela a precariedade na qual está trabalhando após o incêndio.

 

Ana Clara Abalém

Comerciantes do Shopping Popular

 

 

“Está muito difícil. Todo dia tem que carregar a mercadoria, levar a mercadoria, buscar a mercadoria e aqui é muito quente", detalha.

 

Com pouca venda, comerciante, que trabalha há 8 anos no camelô, tem como esperança que a transferência para o estacionamento possa aumentar o fluxo de pessoas.

 

“Então, com a esperança que normalmente mudando para o estacionamento, de repente, dá para movimentar mais carros por aqui, estacionar mais carros aqui. Deve ter mais movimento lá. Que hoje não está tendo, que quase não tem estacionamento, então eu acho que lá talvez vai melhorar”, pontua.

 

A vendedora de açaí e sucos Tânia Prudente, 28, retornou o comércio dois dias após o incêndio. A lojista, que tinha uma lanchonete há 5 anos no local, recomeçou com apenas uma mesinha. Após um mês, conseguiu com um parceiro um contêiner para realizar as vendas. Entretanto, mesmo já adaptada com o novo espaço, ela percebe a redução da clientela.

Ana Clara Abalém

Comerciantes do Shopping Popular

 

 

“A gente tinha uma clientela nível Mato Grosso, bem fiel mesmo, que conhecia e gostava do nosso produto. A única falta que a gente vê até hoje é a falta dos clientes. Eu sinto muita saudade dos meus clientes”, comenta.

 

Assim como os demais comerciantes, ela tem esperança de que as coisas melhorem com a mudança de espaço.

 

“A nossa esperança é que vai melhorar bastante o movimento. Porque eu acho que os clientes vão começar a vir procurar. Eu falo para você, não tem igual do Shopping Popular. Mesmo que a gente está começando da cinza, mas ainda tem qualidade. É diferenciado dos outros estabelecimentos”, garante a comerciante.


O caso
Na madrugada dia 15 de julho, o Shopping Popular de Cuiabá foi destruído por um incêndio que começou às 2h30 e se alastrou rapidamente. A Polícia Civil, em um primeiro inquérito, apontou como causa do fogo uma falha da rede elétrica do prédio que soltou faíscas e fez com que se propagasse rapidamente.


O prefeito Emanuel Pinheiro, no dia 23 de julho, anunciou uma linha de crédito, de R$ 10 milhões, exclusivas para a retomada de vendas do comerciante do Shopping. Os 600 lojistas poderão receber até R$25 mil cada um, mediante análise de crédito.


A princípio, os camelôs se mudariam para o Complexo Dom Aquino, localizado ao lado do antigo prédio. Entretanto, o Ministério Público de Mato Grosso (MPMT) se manifestou contra a mudança, justificando que o Shopping Popular “não atende aos fins e interesse da coletividade”. Atletas que usam o espaço para treinamentos também foram contra a transferência.


Em 10 de agosto, a Associação dos Camelôs, então, divulgou que os lojistas seriam realojados no estacionamento do empreendimento.

 

Desde então não houve novas medidas, nem mudança.



Fonte: Gazeta Digital
Crédito da Foto: Luiz Leite