Mato Grosso foi o estado com a maior taxa de feminicídios no país em 2023, ficando com quase o dobro da taxa nacional. O mês de agosto é marcado pela campanha de conscientização para o fim da violência contra a mulher, o Agosto Lilás. No ano que marca a "maturidade" da Lei Maria da Penha, acreditar nas vítimas é um dos principais desafios que podem fazer a diferença. É o que defende a defensora pública Rosana Leite.
Neste mês de agosto de 2024 a Lei Maria da Penha, que visa punir a violência contra as mulheres, entra em sua fase “madura” e completa 18 anos.
A violência contra as mulheres, muitas vezes é entendida somente quando deixa marcas físicas ou roxos sobre a pele. Porém, esse crime está muito além disso e pode ocorrer de diversas outras formas, como violência psicológica, patrimonial, sexual e moral. Estas marcas deixadas, por não serem visíveis aos olhos, podem fazer com que nem a própria vítima saiba que foi violentada, como explica Rosana Leite, defensora pública e coordenadora do Núcleo de Defesa da Mulher (Nudem).
“No Brasil e no mundo, ficou massificada a figura de uma mulher com o olho machucado. Quando se fala de violência contra as mulheres, já vem aquela figura na nossa mente. Mas não é só isso, essa é apenas uma violência. São várias formas de
violência que a mulher pode ser vítima”, explica ela.
O Nudem de Cuiabá é um espaço que oferece atendimento especializado às mulheres em situação de violência. Qualquer uma pode procurar o atendimento, mesmo que seja apenas para pedir orientações jurídicas sobre o que pode ser feito. O espaço conta com equipes multidisciplinares capazes de atender diferentes tipos de violência.
Muitas mulheres entram em contato com o núcleo até para tirar dúvidas, como forma de entenderem se realmente foram vítimas de violência. Esses casos mostram a dificuldade de se enxergar como vítima.
“Quando uma mulher nos procura para a orientação, é claro que eu já sei que ela é vítima de violência. Se ela está com dúvidas, é porque ela já é uma vítima de violência”, explica a Rosana, “se você se sentiu humilhada, constrangida, agredida, dentro ou fora de casa, você já é uma vítima de violência”, desataca.
Sair de um espaço de violência recorrente não é uma realização fácil. O ciclo de violência leva a vítima de volta ao seu agressor, seja por questões financeiras, de ameaças ou da descredibilidade sofrida por muitas mulheres, que, após serem vítimas, são levadas a crer que não deveriam se afastar dos seus parceiros.
“As nossas vivências não foram credibilizadas pela sociedade. Nós temos a religiosidade, a vergonha da mulher que é vítima de uma violência e a própria cultura do estupro que toma conta da nossa sociedade, fazendo com que muitas mulheres ainda fiquem em relacionamentos abusivos e agressivos, achando que elas precisam disso”, explica a defensora pública.
Dados que foram divulgados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que, em 2023, Mato Grosso foi o estado que apresentou maior taxa de feminicídios do país, com 2,5 mulheres mortas a cada 100 mil. A taxa, que é quase o dobro da nacional, apesar de ter redução de 2,1% na taxa de vitimização por feminicídio, ainda apresenta um índice elevado.
O agressor pode ser qualquer pessoa, assim como qualquer mulher pode ser uma vítima e é importante a realização de denúncias e acolhimento para que a violência seja cada dia mais combatida.
“Não tenha qualquer dúvida quando uma mulher diz que ela é vítima de violência. Porque o descrédito da sociedade, o descrédito do poder público faz muitas vítimas todos os dias”, finaliza a coordenadora do Nudem.
Fonte: Gazeta Digital
Crédito da Foto: Freepick