O governador Mauro Mendes (União) lamentou as declarações do cacique Raoni Metuktire, que pediu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que paralisasse as obras da Ferrogrão em Mato Grosso. Para Mendes, o líder dos povos originários apenas repete o discurso do presidente da França Emmanuel Macron.
“Com todo respeito ao meu amigo, Raoni, mas ele está repetindo uma fala do Macron. Porque aos francese, interessam muito que continuemos aqui, a transportar todos nossos grãos, alimentos, pelo modelo mais ineficiente que existe no mundo em transporte em longa distância que é o rodoviário”, disse na quarta-feira (27).
Mauro questionou se as lideranças brasileiras vão atuar para atender os interesses dos franceses ou dos brasileiros, além de voltar a criticar o presidente francês pelas suas declarações durante visita ao país.
“O mundo conhece, vocês conhecem, todos nós conhecemos os problemas que a França enfrenta com relação à produção de alimentos. É muito obsoleta, ineficiente, de baixa escala e que não consegue competir com a América Latina, principalmente com o Brasil. E a única maneira que eles têm encontrado para estabelecer a reserva de mercado é transvestir as barreiras comerciais de barreiras ambientais”, afirmou.
O governador afirmou que todas as nações já perceberam tal estratégia do governo francês. Mendes ainda pontua que os franceses não fazem metade do que o Brasil faz em relação à preservação ambiental. “Eles não têm moral nenhuma para falar do Brasil quando o nosso nível de preservação ambiental é extremamente superior ao que eles fazem lá. Façam no mínimo a metade que nós fazemos e aí terão moral para criticar”, finalizou.
Emmanuel Macron se reuniu com Lula na terça-feira (26) em Belém (PA). Juntos anunciaram programa de investimentos de 1 bilhão de euros (cerca de R$ 5,4 bilhões) na bioeconomia da Amazônia brasileira e da Guiana Francesa. O cacique Raoni esteve no evento, quando solicitou a interrupção das obras da Ferrogrão ao presidente Lula.
“Presidente Lula, me escuta. Eu subi com você na rampa e eu quero pedir que vocês não aprovem o projeto de construção de ferrovia Sinop, mais conhecida como Ferrogrão. Eu sempre defendi que não pode ter desmatamento, não consigo aceitar garimpo, então, presidente, eu quero pedir novamente para que você trabalhe para não haver mais desmatamento”, disse.
Ainda durante o evento, Raoni foi condecorado pelo país europeu com a maior honraria concedida a seus cidadãos e a estrangeiros que se destacam por suas atividades no cenário global, o grau de cavaleiro, o 1º da Legião de Honra. A condecoração foi instituída em 20 de maio de 1802 por Napoleão Bonaparte.
Ferrogrão
A Ferrogrão foi criada para escoar as commodities de soja e milho produzidos no Centro-Oeste até os portos da Amazônia, como alternativa “mais barata” ao trajeto até o Porto de Santos. A estrada de ferro deve percorrer quase mil quilômetros de Sinop, em Mato Grosso, até Miritituba, no Pará, modificando o traçado de 17 unidades de conservação e passará por 6 terras indígenas, além de 3 áreas indígenas com presença de povos isolados.
Uma ação judicial contestando a legalidade da Lei nº 13.452/2017, que alterava os limites do Parque Nacional do Jamanxim para permitir a construção da ferrovia, está tramitando no Supremo Tribunal Federal (STF).
A inconstitucionalidade da lei já foi apontada pela Advocacia Geral da União (AGU). Em setembro do ano passado, o ministro Alexandre de Moraes suspendeu a tramitação do processo por 6 meses para realização de novos estudos sobre os impactos da obra.
Fonte: Gazeta Digital