Presídio em ruínas mantém fichas de presos e histórias trágicas como registro histórico

O local, inaugurado em 1975, já abrigou mais de 1,3 mil prisioneiros, quatro vezes acima de sua capacidade original, e foi palco de muitas tragédias e rebeliões

O Centro de Ressocialização de Cuiabá (CRC), conhecido como Cadeia do Carumbé, está em ruínas e sua demolição revela um cenário intrigante. Entulhos de demolição se misturam a móveis, documentação de presos, sucatas de informática e até material de escritório sem uso.

O local, inaugurado em 1975, já abrigou mais de 1,3 mil prisioneiros, quatro vezes acima de sua capacidade original, e foi palco de muitas tragédias e rebeliões.

Em janeiro deste ano, sem aviso prévio à Justiça, uma operação surpresa transferiu 469 presos para a penitenciária Ahmenon Lemos Dantas, em Várzea Grande, fechando a unidade. Embora extraoficialmente a área tenha sido negociada pelo Estado para a construção de condomínios residenciais, oficialmente, as autoridades afirmam que estão estudando a melhor destinação social para o espaço.

O CRC era a única unidade prisional que oferecia programas de ressocialização, mas com a mudança, todas as atividades foram interrompidas, aguardando a construção de novas oficinas na penitenciária Ahmenon Lemos Dantas para retomar as atividades. Porém, o reduzido efetivo de policiais penais e a superlotação na penitenciária podem dificultar essa retomada.

Membros da equipe do Jornal A Gazeta visitaram o local, e o policial penal Clóvis Henrique Mendes da Silva, que trabalhou na unidade por mais de 10 anos, recorda a época em que os policiais ficavam entre os presos sem segurança. Apesar das condições adversas, ele afirma que existem boas lembranças das amizades construídas com os colegas.

Em outro episódio marcante, em 1989, ocorreu a maior rebelião do Estado na cadeia, deixando 10 pessoas mortas, incluindo 8 presos e dois policiais. O advogado Renato Gomes Nery, que atuou na negociação durante o período em que presidiu a OAB, aponta que houve excessos tanto dos amotinados como das forças de segurança.

Após o fechamento da unidade, documentos ainda se espalham pelo local, mas segundo a Secretaria de Segurança Pública (Sesp), toda a documentação referente aos servidores e presos foi recolhida e armazenada adequadamente na Secretaria Adjunta de Administração Penitenciária (SAAP).