Denúncias de excessos e humilhações são feitas por alunos da Polícia Militar

Em apenas 15 dias de treinamento, os oficiais tratam os alunos como inúteis, lixo, escória da sociedade e seres que não prestam para nada

Um total de 525 candidatos a soldado da Polícia Militar de Mato Grosso, aprovados em concurso público, têm enfrentado um pesadelo desde o dia 3 de julho. Durante o 32º Curso de Formação de Soldado, esses alunos são submetidos a assédio moral, humilhações e tratamento desumano.

Com carga horária que varia de 15 a 20 horas de treinamento, os alunos enfrentam longas exposições ao sol, recebem alimentação reduzida e são obrigados a arcar com diversos custos, incluindo materiais de primeiros socorros para atender colegas que desmaiam e são socorridos pelos próprios alunos.

Em apenas 15 dias de treinamento, os oficiais tratam os alunos como inúteis, lixo, escória da sociedade e seres que não prestam para nada.

As aulas têm início às 5h50 na Escola de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (Esfap), na rodovia Helder Cândia, e não possuem horário para terminar. Os alunos, que esperavam receber formação específica para atuar na segurança pública, foram obrigados a comprar ferramentas para a limpeza de toda a propriedade.

As salas de aula não estão sendo utilizadas e as atividades se limitam ao treinamento de ordem unida, que consiste em marchar em formação e cantar hinos cívico-militares.

Tanto no período da manhã quanto à tarde, a rotina é a mesma: marchar sob o sol durante todo o dia e obedecer às ordens dos superiores. Mesmo em condições de calor intenso e baixa umidade, os alunos só têm permissão para beber água duas vezes por turno, resultando em desmaios frequentes.

No sábado, uma aluna desmaiou e ficou inconsciente por 15 minutos, sendo levada para atendimento médico apenas após muita insistência e em uma viatura oficial. Na semana anterior, um aluno desmaiou e ficou hospitalizado por três dias.

A alimentação fornecida consiste em meio copo de chá e um pão tanto pela manhã quanto à tarde. O almoço, de péssima qualidade, também é fracionado e os alunos têm apenas três minutos para se alimentar. O revezamento por pelotões é realizado em um espaço destinado a, no máximo, 100 pessoas.

Enquanto alguns alunos conseguem engolir sua refeição, os demais não têm direito a descanso e são obrigados a se manter em movimento constante, como se estivessem correndo em uma esteira. Aqueles que têm condições levam comida extra para complementar a dieta e compartilham com os colegas.