Falta de vagas em creches afeta mais da metade das cidades de Mato Grosso, deixando cerca de 15 mil crianças aguardando uma vaga. Além disso, a construção de 20 creches está paralisada no estado, enquanto outras 74 estão em processo de construção.
Os dados foram revelados em um levantamento realizado pelo Gabinete de Articulação para Efetividade das Políticas de Educação de Mato Grosso (Gaepe-MT), por meio de um questionário respondido pelos 141 municípios. Com base nessas informações, o Gabinete pretende identificar quais ações precisam ser implementadas entre o Estado e os municípios para reverter essa situação.
De acordo com o estudo, em Mato Grosso existem 775 creches, sendo 512 públicas, 222 privadas e 41 filantrópicas. No entanto, esse número é insuficiente diante da demanda, pois 79 municípios enfrentam falta de vagas para crianças. O levantamento também mostra que 1.893 crianças de 0 a 1 ano, 5.187 de 1 a 2 anos, 4.496 de 2 a 3 anos e 3.307 acima de 3 anos aguardam uma vaga nas creches.
A pesquisa foi realizada entre março e maio deste ano pelo Gaepe, um grupo composto por 19 instituições e mediado pelo Instituto Articule, cuja presidente-executiva é Alessandra Gotti. Ela explica que as ações do grupo visam três objetivos principais: acesso à creche, pré-escola e alfabetização na idade adequada.
"O Gaepe está presente em quatro unidades federativas do país e foi instalado em Mato Grosso em outubro do ano passado. Por meio de uma governança horizontal, pretendemos apoiar o gestor do estado para obter maior efetividade nas políticas públicas voltadas para a educação, a fim de obter resultados mais rápidos para os estudantes", diz Gotti.
Gotti destaca que as maiores cidades do estado são onde se concentra a maior carência de vagas no ensino infantil, especialmente em Cuiabá e Várzea Grande, onde há um maior número de solicitações pendentes.
O procurador da Cidadania do Ministério Público do Estado (MPE), José Antônio Borges, afirma que a instituição acompanha historicamente a falta de vagas nas creches. Com base nos dados levantados pelo Gaepe, está sendo feita uma articulação junto aos 74 promotores do Estado para ampliar o número de vagas em creches no próximo ano.
"É um problema crônico e acreditamos que, por meio dessa força-tarefa, possamos reverter esse déficit. Essas quase 15 mil crianças na fila são apenas uma parte, e sabemos que o número real é muito maior", diz Borges.
Ele ressalta que a falta de vagas na educação infantil vai além de um problema educacional, afetando também as famílias economicamente e em termos de saúde. "As creches não são apenas um lugar para deixar as crianças. São espaços de ensino psicomotor, que garantem alimentação adequada e acompanhamento das vacinas. Além disso, quando as crianças têm onde ficar, os responsáveis podem trabalhar".
O procurador enfatiza que não se deve subestimar os avanços já conquistados, mencionando que Cuiabá, por exemplo, já teve apenas seis creches. "Isso não diminui a necessidade de continuar avançando. Precisávamos desses dados como ponto de partida".